Sua mãe, Odele, é a outra protagonista e testemunha ocular. Uma mãe, uma filha e um fatídico momento — alguns segundos no acidente —, mas que já duram anos na busca pela dignidade e respeitabilidade aos direitos inerentes ao caso. A dor angustiante de ver seu pedaço viver sob cuidados diuturnamente, e em confrontar com a triste realidade de não ver sua alegre filha de antes se tornar uma grande mulher, e, ainda, assistir o sistema titubear em decidir justamente, é o que nos move, hoje e sempre, em solidariedade. Queremos justiça! Nenhum dinheiro trará a menina de volta segundo os médicos; mas os culpados precisam se conscientizar que a vida deve ser respeitada. E que ligamos sim e protestamos quando alguém faz pouco caso do outro.
Flavia certamente herdaria os traços do caráter, da personalidade determinada, a compostura, a fortaleza da mãe. Teria hoje em dia as virtudes necessárias para ser uma pessoa íntegra, correta e feliz. Não consigo pensar diferente, vide a luta materna. A mãe, apesar de tudo, transformou seu cotidiano em uma busca importante para si e sua filha, não deixando um ato de desrespeito à vida predominar sobre seus direitos mas, também, para que outras "Flavinhas" não venham a perder o maior bem: a vida propriamente dita. A luta de Odele e Flavia é comovente, exemplar na determinação e nos faz lembrar como somos frágeis, mas que podemos ser melhores do que somos. Que a maior guerra a ser vencida é dentro de cada um de nós, é tirar forças das fraquezas, é vencer um dia de cada vez. Do desespero, da melancolia, da impotência diante do sistema firmou-se uma vencedora. Duas vencedoras.
A mãe se entregou de corpo e alma à causa maior, à busca por uma existência digna com a situação que se encontra. Ambas, guerreiras, são uma só: em pensamentos, em amor, em carinho, em cuidados, em atenção, em conviverem com a brutal separação, apesar de estarem lado a lado; juntas na necessidade de que se faça justiça, de fato e de direito. A vida de Flavia antes e após o acidente, a batalha diária, as conversas com Flavia no leito, o "sorriso roubado", o vai-e-vem na justiça... a história de amor..., é contada, aliás, muito bem relatada, no blog que Odele administra para fazer valer os direitos da filha.
Não está entendendo? Leia o blog de Flavia, apenas leia, o que você tem de fazer depois é de sua consciência, é conseqüência natural de quem realmente se importa como o próximo. Cada um sabe das suas possibilidades, das suas convicções. Apoiar, ou dizer uma palavra amiga, é o mínimo que podemos fazer.
A fala de Odele e os diálogos nos dão um resumo da história de Flavia. Confira o vídeo.
* Transcrição de partes da participação de Odele Souza no programa “O Melhor do Brasil”, na TV Record, em agosto de 2008.
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Rodrigo Faro: Isso mesmo. São histórias que de tão diferentes fazem todo mundo duvidar de que elas sejam verdadeiras. Então, reúnam a família e façam as suas apostas porque vai começar “Cara de quê?” ( um dos quadros do programa).
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Sidney Magal: — Eu vou com a Odele, a número 2.
Rodrigo Faro: — Então... Magal, 30 segundos pra você, valendo!
Sidney Magal: — Eu vou repetir a pergunta. O que aconteceu com você não se deseja pro pior inimigo?
Odele: — Sim.
Sidney Magal: — Você tem fé que vai superar, ainda, isso?
Odele: — Não.
Sidney Magal: — Você tem muitos filhos?
Odele: — Não.
Sidney Magal: — Mas tem filhos?
Odele: — Sim.
...
Rodrigo Faro: — Vai querer comprar uma dica... ou vai chutar direto?
Magal resolve comprar uma dica e descobre uma indumentária hospitalar na caixinha de pistas de Odele. Faro sugere a ele prestar atenção na fisionomia de Odele antes de dar o palpite sobre o caso dela, ou seja, o que tanto a torna diferente do grupo ali exposto... e o cantor responde: — Já olhei muito, foi por isso que eu a escolhi. Ele deve ter imaginado o que viria a dizer, graças ao semblante de Odele, a indumentária e “um algo mais”.
Sidney Magal: — Pode ser até que eu me engane, né?! Mas, o que é viver e conhecer o ser humano, né... mas eu vou chutar: ... é..., infelizmente, Odele, você tem uma filha que está há dez anos em coma?
Odele: — Sim
Rodrigo Faro: — Vamos conhecer um pouquinho da História da Odele: Em janeiro de noventa e oito, a filha de Odele, a Flavia, teve seus cabelos sugados pelo ralo da piscina do condomínio onde morava
Odele Souza processou o condomínio onde morava, a seguradora do condomínio e o fabricante do ralo. Em dois julgamentos, Odele considerou as indenizações muito baixas e recorreu. O processo se arrasta na justiça, mas a mãe de Flavia não desiste e criou o blog: www.flaviavivendoemcoma.blogspot.com
para alertar a população e protestar contra a lentidão da justiça.
Odele, o quê que você acha que precisa ser feito pra que haja justiça? Pra que seja feito, realmente, justiça?
Odele: — Rodrigo, veja bem, o processo de Flavia, depois de nove anos na Justiça Paulista e, após dois julgamentos, que nos foram concedidas indenizações simbólicas e, até aviltantes, esse processo finalmente teve autorização pra seguir para Brasília, onde deverá ser julgado em última instância. Quando você me pergunta o quê que eu espero pra que possa haver justiça, eu acho que, num caso desses, justiça não há; mas é preciso que os culpados por um acidente dessa dimensão sintam pelo um pouco no bolso, pra que fiquem mais atentos e não continuem com as suas negligências que causam acidentes tão devastadores quanto esse. Então, o que eu espero? Espero que lá em Brasília, os juízes se dêem ao trabalho de olhar as provas periciais, constantes nos autos, e, atentem... e condenem, exemplarmente, os culpados, pra que eu possa ter uma indenização condizente com a gravidade desse acidente; pra que eu possa continuar cuidando de Flavia e dando a ela o mínimo de qualidade de vida.
Rodrigo Faro: — Muito bem. Vamos aproveitar e fazer então um apelo ao Supremo Tribunal Federal, aos juízes, aos desembargadores que vão julgar esse caso... que vejam com atenção e, por favor, façam justiça. Muito obrigado, Odele, pela sua participação, por ter revelado sua história pro Brasil.
Sidney Magal: — Quero dizer também que, pra concluir o que aconteceu há pouco, tanta coisa muito bem dita, muito bem colocada pela Odele, é que, pra quem é pai... quando a gente olha pra uma pessoa e vê que o seu sorriso não é pleno de felicidade, é porque alguma coisa muito grave aconteceu a essa pessoa com relação ao seu filho, portanto, eu gostaria de deixar bem registrado, que o amor entre pais e filhos, cada vez mais, deve ser cultivado nesse país.
Flavia e Odele, estamos com vocês!
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Ah, navegante, você sabe as regras de conduta. Não envergonhe Voltaire e faça sua parte. Eu, certamente, farei a minha: deletarei os comentários tolos ou ofensivos a quem quer que seja (comentaristas ou blogueiros). Meta pau nos que venderam a alma pro Boninho.