quinta-feira, 8 de novembro de 2007

● O Velho e Chato Portuga.

- Tia Gertrudes, não dá para estudar isso, muda toda hora! Eu prefiro o recreio, onde se come, bebe, conversa com as amigas e azara os gatinhos, sacou?

Me desculpem o sumiço. Estou todo enrolado, alguns projetos, cabeça a mil, e aquela velha história de querer fazer tudo e ao mesmo tempo, me deixa agitadíssimo. Mas estou indo bem, obrigado. Afinal, temos que aproveitar os movimentos respiratórios, catalisar energia e transformar em produtividade.

Fiz o post anterior a este e nem revisei, tal a pressa. Ao fazê-lo, agora a pouco, percebi que cometo vários erros. E sempre que ler e reler evidenciarei uma cravada em alguma regra do portuga. Deve acontecer com muita gente. É sobre isso que gostaria de falar um tiquinho: o quanto erramos português no dia-a-dia. Nossa língua é quase uma ciência inexata. Entender seus meandros e regras requer determinação, atenção redobrada - mais do que quando se trafega na Linha Vermelha, no Rio - e paciência de Jó, além, claro, de praticar uma boa leitura, vez ou outra. Ler, sempre ajuda a fixar e nos automatiza para o escrever. A gente tenta, mas é IMPOSSÍVEL não errar.

Vocês já se deram conta das inúmeras regras que temos que dominar para escrevermos um simples texto? Pois é, é algo para letrados da Academia Brasileira de Letras, talvez, nem eles próprios dominam sem recorrer aos alfarrábios que regulamentam nosso idioma.

Li uma vez, não me lembro onde, que nossos erros mais corriqueiros incluem a crase, a hifenização e a concordância. Quem inventou essas malditas regras? E se ficasse somente nas regras, beleza, mas sempre têm as exceções. Tinha que ser português mesmo, pois em muitos casos, as exceções são mais numerosas que as próprias regras. É extraterrestre!

Na língua portuguesa, crase é a contração ou fusão da preposição a com os artigos definidos femininos(a, as) ou com os pronomes demonstrativos aquele, aquela, aquilo, aquiloutro, aqueloutro. Pois bem, segundo me lembro, existem três regras para essa coisinha - pentelha - chamada crase:

-só ocorre crase diante de palavras femininas; (já estaria de bom tamanho, só essa.)
-se a preposição a vier de um verbo que indica destino, troque este verbo por outro que indique procedência se, surgir ‘da’, ocorrerá crase;
-troca-se a palavra feminina por outra masculina, se, diante da masculina surgir ‘ao’, ocorrerá crase;

Certamente, qualquer indivíduo nos seus áureos tempos de neurônios jovens, sem vícios e ávidos por conhecimento, estaria satisfeitíssimo com essas “regras”, pronto para ganhar o mundo das sagradas escrituras. Mas, porém, contudo, todavia, entretanto... temos os famigerados casos especiais. Nem vou citá-los aqui, é enfadonho. É muita lengalenga. Coé Kane, eu vim aqui saber sobre os BBs, quem a Fani traçou ontem e você vem com regrinhas de portuga? rs.

Mas é de estressar qualquer um... Até parlamentares que deveriam se preocupar mais com as melhorias no ensino, já se pronunciaram em abolir a crase, ou seja, o acento aparentemente inofensivo, também inferniza os bastidores do poder(?). Para nossos irmãos portugueses aprender o uso da crase é fácil, pois eles pronunciam diferente quando se tem crase, daí não necessitarem aprender as tais regras. Eles aprendem desde criança. Será?

A hifenização é para malucos! Quem normatizou o uso do hífen exagerou no Ayahuasca – o poderoso chazinho do Santo Dime – porque aquilo deixa a gente alucinado só de tentar entender, imagina ter que escrever?!? Como regra geral só se ligam por hífen os elementos das palavras compostas que mantém a sua independência fonética. Excelente se fosse só isso, seria amor-perfeito. Tente enumerar os prefixos e suas maleditas regras para serem hifenizados antes da consoante redonda, ou da vogal quadrada? E haja prefixo! É super-ultra-mega-blaster-confuso. Confesso que fico perdidão com tantos prefixos na minha vida. Vivo escrevendo bom dia, mal educado, bem casado, bem humorado, bom moço, bem acabado, bem aceito, bem arrumado. Pois é, está tudo errado, estas são expressões hifenizadas. Levaria zero da minha professorinha Gertrudes. Eu só não erro o tal do ‘bem-vindo’, porque ele se apresenta toda a vez que ligo o computador. Um lindo bem-vindo em fundo azul, é a Microsoft contribuindo com nosso idioma. rs

Sobre a concordância nem me atrevo a comentar, ela é outra enxaqueca. Mas vale também que, se ficasse nas regrinhas básicas, maravilha. Ela já enche a barriga – de gases – pela sua definição, imagina os verbos irregulares e silepses da vida. Ai que nó nas tripas!

O certo mesmo sobre nosso riquíssimo idioma é que temos que exercitá-lo como arte. Somos todos artistas – e autistas – na prosódia e escrevinhação de cada dia. Outra assertiva é que todos erramos, todos pisamos na bola. Somos todos passíveis de atropelar na arte de falar, escrever e, conseqüentemente, partilhamos os mesmo erros na escrita de nossa língua pátria. Uns mais, outros menos. Fundamental de tudo isso é que nós tenhamos a capacidade de nos fazer entender.

A melhor regra do português e, que bom seria se tudo fosse assim, para mim é: “toda proparóxitona é acentuada”. Olha que coisa mais meiga! Zero de exceções. Ao menos essa, eu penso que não dá para cometer deslizes. Uma ceva bem gelada para o Imortal que nos presenteou com tal solução.

Até outro dia eu ignorava que a expressão ‘estória’ era relíquia - démodé -, a moda agora é ‘história’, grafia usada tanto para o real quanto para a ficção. Então, a história - no presente momento- é que o Brasil e nossos amigos de idioma: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste terão ortografia unificada a partir de janeiro de 2008. Estou só no aguardo, o que virá? Será que realmente iremos falar a mesma língua?

Estou na torcida!

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Complementos:

1: Para satisfazer sua curiosidade confira o que vai mudar a partir de janeiro de 2008, na nossa escrita, clicando aqui.

2: Confira os 100 erros mais comuns no português, aqui. Muito interessante!

3: E, sim, também estranhei quando o corretor automático do editor de texto acusou dois acentos para démodé. Herança francesa confirmada pelo Pai de Santo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Aprendi mais essa!

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Por isso que o Mark recorre ao idioma mais fácil do mundo. Cara esperto, hein?!? hehehe

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